domingo, 15 de setembro de 2013

A patrulha de Bairro

A PATRULHA DE BAIRRO
Queria ter visto este filme antes mas vi pela primeira vez hoje, no canal TVC1.

 Do que se trata?
Quatro homens do mais estereotipado que existe formam um grupo de vigia para manter o bairro seguro de um assassino misterioso que remove a pele das vítimas. É aí que descobrem que as pessoas estão a ser mortas por extra-terrestres, que lhes roubam a pele para se disfarçar de humanos. Terror? Fantástico? Não. "A patrulha de bairro" é um filme de comédia. E comédia daquelas que se vê mas se se poder avançar um pouco no controle remoto nas situações cliché mais-que-vistas que não se perde nada. Vê-se uma vez, não se vai desejar ver outra, a menos que nada mais entusiasme.


O filme é OK para passar tempo mas está repleto, de início ao fim com todos os chavões a que estamos habituados nos filmes de hollywood. E quando digo chavões refiro-me a todas as situações e principalmente à forma como são retratadas, filmadas e escritas. Os quatro homens são compostos de estereótipos já vistos diversas vezes antes. Tem o casado sem filhos que é o "certinho" mas vai-se perceber que de todos é o que verdadeiramente tem reais dificuldades de ajustamento sociais que miraculosamente se resolvem no final, tem o boémio pai de família com a casa toda apetrechada de gadjets que fazem delirar qualquer gajo e nas mãos a educação de uma filha adolescente, tem o puto novo que não consegue arranjar gajas e vive na casa da mãe e, claro, tem o "elemento novo", aquele que acabou de chegar à área e se junta ao grupo vindo de fora. 

Não foi preciso avançar muito adiante na trama para adivinhar que o novo elemento ia revelar-se alienígena. E o filme não surpreendeu. Vai-se adivinhar: o novo elemento do grupo de amigos é um extraterrestre. A sério? OHhhhh a surpreeeesa!!

E para não fugir do que habitualmente sempre acontece nesta linha de trama, o que é que este extra-terrestre faz agora que virou "amiguinho" de uns palhaços humanos? Vira-se contra a própria espécie e defende a raça humana. De armas na mão e muitos tiros ajuda a eliminar a ameaça invasora e vai erradicar os seus que vieram para destruir o planeta. O que o fez mudar? Sexo, como sempre. Terem-lhe chupado "as bolas" fez a magia.


Tudo isto vem "embrulhado" nos clichés de sempre, com a habitual quase ausência do papel feminino das esposas, que aparecem somente no final só para abraçarem o marido. A única que se vê ao longo do filme não tem densidade e limita-se a ser uma personagem satélite, assim como a filha de outro personagem, que é também estereotipada. Ao todo pode-se contar com tudo o que já se viu antes, reciclado num novo enredo. Tem muitas explosões, muitos tiros. Tem um polícia estúpido e covarde que na hora do aperto "caga-se" todo. Tem cenas e cenas dos "heróis" em câmara lenta, a clássica explosão capaz de arrasar quarteirões mas que inexplicavelmente deixa ilesos os "salvadores do mundo" que estavam a poucos metros de distância e tem, como não podia deixar de ser, o clássico cena de beijo de incentivo (quando a "luta" vai começar) e o clássico beijo de recompensa (quando já mataram todos e saem vitoriosos) dado por uma personagem feminina ao herói principal masculino. Esta mulher, por ser plana, aceita com demasiada facilidade tudo o que lhe acontece, simplesmente porque desenvolver essa parte da trama ia atrapalhar a história focada no light-humor. 

domingo, 30 de junho de 2013

2 Filmes deste Domingo

Fazia algum tempo que não via um filme e depois outro, assim num mesmo dia, sem procurar nada em concreto ou ocupar em particular a mente.

Neste Domingo vi Stepord Wifes, de 2004, um remake de um anterior sucesso com grandes actores no elenco como Matthew Broderick, Nicole Kidman, Bette Midler, Gleen Close e Christopher Walker. O filme teve "más reviews" pelo que pude entender mas não é mau de todo. Direcção e guião podiam ser melhores mas tem boas interpretações, existe um conceito que é universal que lhe dá de mote. Supostamente devia ter sido um mega sucesso e foi considerado um fracasso. Mas entretém e até, pasme-se quem quiser, faz reflectir. Em toda a "paranóia" da aparência e do ideal que a sociedade impõe, cobra ou espera de um homem ou de uma mulher ao longo do tempo.


Horas depois um outro filme protagonizado por ainda outras grandes estrelas, Jim Carrey e Tea Leoni, de 2005, intitulado Dick & Jane, ladrões sem jeito, quase me faz ir ao vómito. Não tem ponta por onde se pegue. Podia até ter alguma utilidade ou propósito cómico, mas não. Cena atrás de cena, minutos correm e uma pessoa olha para aquilo e não consegue mesmo deixar de pensar como é possível que alguém perca tempo e invista dinheiro para produzir algo tão sem utilidade alguma. E pensa, revoltado: "mas porquê fizeram esta POR CA RI A?

DOIS filmes de hollywood, um com estigma de fracasso o outro sem "reputação" positiva ou negativa. Prefira o fracasso

sexta-feira, 19 de abril de 2013

Lendas da Paixão


É um filme que me apraz. Está muito bem transformado para cinema. Vê-lo é quase como soubesse o que o livro diz. Mas isso diz respeito à adaptação. A riqueza da história e das interpretações só fazem enobrecer o resultado final.

A história é simples, rica, profunda e envolvente. É relatada por um velho índio e começa no início do século XX, com lembranças contextuais dos anos anteriores, aquando o governo americano tendo em vista a riqueza das terras ocupadas por índios, deu início a uma luta de posse sem tréguas e, por vezes, sem lei ou moral, optando pelo massacre e extermínio. É nesse contexto que ficamos a conhecer a família de Ludlow, ex-o Coronel do exército que vive na sua quinta de criação de gado em Montana, com os seus três filhos, Alfred, Tristam e Samuel. A esposa deixou-o para viver mais perto da civilização e com ela o coronel e os filhos mantêm relações regulares mas distantes, transmitindo notícias uns dos outros por carta. Com esta família de homens unidos vive uma outra: um capataz e a índia Pet, que têm uma filha criança com o estigma de ser mestiça e o velho índio "Uma facada", que entende perfeitamente inglês mas compreensivelmente se recusa a comunicar na língua do invasor. Vivem em igualdade, comem na mesma mesa, se relacionam como iguais. O velho coronel educa a criança mestiça, ensinando-lhe história europeia, matemática e ciências. O velho índio ensina caça e outros rituais índios ao pequeno Tristan, o mais ligado à natureza. Duas raças unidas pela dor e conhecimento da perda, morte, desgraça e injustiça. Sobreviventes, mais sábias, vivendo e educando a nova geração. 

Três jovens rapazes, uma jovem mulher. Não podia dar certo, não é mesmo? Tudo começa quando Samuel, o mais jovem dos irmãos regressa de uma temporada com a mãe e aparece com a sua noiva. Apresenta-a à família, todos a acham encantadora. Ela é sozinha, já não tem família dela, algo que compadece o velho coronel, que entende bem a perda. Isto fá-la ser especialmente bem acolhida. A presença de uma mulher culta na casa traz alegria e muito agrada a todos. Mas mal Susannah bate os olhos em Tristan, existe ali uma atração por aquele seu lado selvagem, indomável, franco e cru. E Susannah é correspondida. Também Alfred, o mais velho e ponderado, mal vê Susannah sente de imediato uma atração. Mas tratando-se da noiva do querido irmão, Alfred guarda esse sentimento para si. Já Tristan vai acabar por não fazer o mesmo. Numa noite em que o ingénuo Samuel decide partir para se alistar voluntariamente naquela que ficou conhecida como a primeira Guerra Mundial, Alfred surpreende Tristan e Susannah num quase beijo. O coronel é contra os filhos partirem para a guerra ou se envolverem em política, tal é a sua aversão por tudo o que diga respeito ao governo. Ele bem tenta demover o jovem e idealista Samuel, mas é em vão. Nem os apelos da sua virginal noiva demovem Samuel de ir vivenciar um campo de batalha e até vir a sangrar-se um bom soldado combatente, como o foi o pai. Samuel quer conquistar o orgulho do pai mostrando-lhe que também pode ir para uma batalha. Mas o velho coronel sabe o que uma guerra realmente é: um desperdício e uma loucura.

Resignado e impotente, o coronel vê Samuel partir com os seus dois irmãos rumo à guerra na europa. Alfred ainda tem convicções políticas que o fazem ter ideias sobre a guerra mas Tristan segue apenas para manter o irmão mais novo debaixo de olho. Os olhares que o coronel troca com o filho Tristan no momento de despedida deixam claro que este só segue caminho com esse propósito em mente. Tristan, a pesar de ser o mais guerrilheiro e inquieto dos irmãos, não sente necessidade de se envolver nesta guerra. O seu propósito é um único só: manter Samuel vivo e levá-lo em segurança de volta para casa, para o pai.

E no decorrer de vários cenários de guerra nas trincheiras, tanto Tristan como Alfred conseguem manter o irmão são e salvo. Nisto Alfred é atingido pelo estilhaço de uma granada, sendo hospitalizado com um problema de menor gravidade na perna. Nesse dia no acampamento, Tristan cruza-se com Samuel e não perdendo nem por um segundo o seu objectivo de vista, pergunta-lhe onde ele se dirige. Como Samuel vai fazer umas traduções para uma tenda próxima, Tristan segue para visitar Alfred na tenda hospitalar e este logo lhe pergunta pelo paradeiro do irmão. É aí que um outro soldado surge para os avisar que Samuel voluntariou-se para ir fazer o reconhecimento. Uma situação de elevado risco. Os dois irmãos ficam alarmados e Tristan corre atrás de Samuel, disposto a encontrá-lo e protegê-lo. Debate-se entre o campo de batalha, espreita corpos caídos, mata inimigos e grita pelo nome do irmão que, meio atordoado com uma explosão e temporariamente cego pelo fumo, deambula sem conseguir enxergar direito que direcção seguir e chama por Tristan. Quando Tristan o vê, Samuel encontra-se encurralado numa cerca de arame farpado, da qual se tenta libertar e diante dele, dois soldados inimigos montam uma metralhadora para disparar. Tristan grita, Tristan corre, Tristan agarra na sua arma e Tristan dispara e mata os soldados, mas não antes de ver o corpo do irmão ser cravejado de balas de metralhadora. A morte do irmão o faz sentir que falhou no que não podia jamais falhar. Ele ainda tenta carregar o corpo morto como se fosse possível o levar às costas e a pé de volta a casa. E é aí que o seu espírito índio ganha expressão. Tristan pega na faca e espeta-a no peito do irmão morto, arracando-lhe para fora o coração. Ele prometeu que Samuel ia regressar a casa. O pai ia ter o coração para fazer o funeral. Em transe de choque, Tristan marca o rosto com o sangue do coração do irmão e sai furtivamente durante a noite a matar e retirar o escalpe aos inimigos que encontra pela frente. Regressa de manhã usando os escalpes como colares. É dispensado do serviço mas não regressa a casa. Parte para rumo incerto, em luto. 


O tempo passa. Alfred sente-se cada vez mais atraído por Susannah e declara o seu amor, com planos de casamento. Mas o regresso de Tristan retira-lhe quaisquer esperanças ao ver que a reação da moça é de pura felicidade. Nessa noite Tristan e Susannah fazem amor. Alfred percebe e mesmo sofrendo, toma a atitude altruísta e pensando no bem estar de Susannah vai falar com o irmão, exigindo que ele se case e decidindo sair de casa para fazer carreira política na cidade. 

O tempo passa novamente. Tristan e Susannah vivem bons momentos de amor mas a novidade começa a passar e Tristan começa a distanciar-se. Renasce nele uma fúria e inquietação que o estão a tornar agressivo. Um episódio com um bezerro preso no arame farpado fá-lo recordar com fúria o trauma da morte de Samuel. E Tristan parte, para parte incerta e sem garantias de regresso, deixando Sussanah, que promete ali ficar e esperar por ele para sempre.

Tristan conhece o mundo. Dá poucas ou nenhumas notícias e parte, navegando mares, caçando em terras inóspitas, entregando-se a orgias e aos prazeres e excessos. Faz tudo o que um espírito irrequieto e que necessita de viver intensamente precisa, até voltar a sentir vontade de acalmar. Passados muitos anos, Tristan regressa a casa. Susannah está casada com Alfred e vive na cidade. O velho coronel está debilitado, mal consegue falar e arrasta o corpo. Sofreu um AVC anos antes, fruto do choque da leitura de um dos poucos bilhetes que Tristan enviara durante as suas viagens, onde se dizia morto e dava permissão a Susannah para se casar com outro. O preço do gado baixara tanto que a família perdeu o dinheiro que tinha. Tristan regressa e vê no recuperar o nível de vida da família um objectivo. Com a política sempre presente como fio condutor, o velho coronel, feliz com o regresso do seu adorado filho, informa-o que o irmão Alfred, agora senador, votara na lei Seca. Tristan entende o que o pai quer dizer: existe muito dinheiro a ser feito na venda ilegal de álcool e partilhando da mesma aversão do governo, lança-se no contrabando. É um negócio onde outros "tubarões" também navegam, pelo que depressa Tristan se vê ameaçado de morte se continuar as suas ações contrabandistas. Destemido, ele ignora tudo e continua a fazer concorrência a outros contrabandistas, que um dia lhe fazem uma espera, quando regressa de um passeio de automóvel com a família. Com a polícia corrupta pelo meio, alguns tiros de aviso são disparados para o ar para chamar a atenção e uma bala perdida acaba por fazer ricochete e atingir mortalmente a nova esposa de Tristan, a bela Isabel II, a filha mestiça da índia Pet com o capataz, que entretanto se havia casado com Tristan e lhe dado dois filhos. A jovem que não passava de uma criança de 13 anos quando Sussanah chegou à quinta, sempre havia dito que um dia ia casar-se com Tristan  Acabou que o apanhou no seu periodo quieto, após ter extravasado toda a energia que tinha para gastar. No regresso de Tristan  ele encontrou não uma menina, mas uma sedutora mulher de 20 anos.


A morte de Isabel II causa outra morte na família. Susannah percebe que é incapaz de deixar de amar Tristan e comete o suicídio. Tristan, que havia agridido no local o polícia que disparou a arma, foi preso mas depois de ser libertado, arma uma cilada na qual mata os homens que inadvertidamente causaram a morte da esposa. É então procurado em sua casa no intuito de ser morto. Ele pede para fazerem o que têm a fazer no mato, longe do olhar do filho e prepara-se para se entregar quando o velho coronel chega com uma arma e dispara mortalmente em dois dos homens. Nisto um outro dirige-lhe a espingarda. Tristan ainda tenta meter-se na frente da bala mas não chega a tempo. Escuta-se um disparo e o homem segurando a espingarda cai morto ao chão. Não estava mais ninguém ali e Tristan encontrava-se desarmado. De onde partiu o tiro? Foi Alfred que regressava da campa da esposa. Ao deparar com o cenário, não hesitou em defender a vida do pai. Este não lhe falava fazia anos, muito mais duro que era com este filho do que com qualquer outro, havia deixado de lhe falar por se ressentir que este fizesse profissão da política e tivesse alguma razão no que dizia sobre Tristan. 

O filme termina com o retorno solidificado dos laços familiares entre irmãos, pai e dois filhos. Tristan é procurado e terá sempre um mandato de captura em seu nome, pelo que parte para local incerto. Não sem antes conferir a responsabilidade e a honra a Alfred, de criar os seus filhos. O tempo passa, os filhos crescem, notícias surgem de vez em quando, todos morrem e vão fazer companhia ao coração de Samuel, enterrado numa colina perto de casa. Menos Tristan, cuja sepultura é desconhecida, morreu algures no mato durante uma caça. Era assim que estava predestinado.


Cena predilecta
Todo este filme é feito de uma boa cena atrás de outra. Mas ao longo dos anos a parte que mais me toca tem sido a de Alfred diante da sepultura da esposa, o seu desabafo quando diz: "Eu cumpri todas as regras. As de Deus e as dos homens. E tu, nenhuma. E todos gostam mais de ti". 

A cena em que ele confronta o irmão após este se envolver com Susannah também é forte.
E todas as referências que envolvam a inutilidade das guerras que as personagens atravessaram (sucessão, índios etc).